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Channel: A Voz do Taxista – RÁDIO TERA BYTE
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O pensamento uberiano e a sociedade desorganizada

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Ao longo desse período que a Uber começou a operar, vimos no mundo inteiro posições contra e a favor do aplicativo.  Se fosse possível fazer um perfil real do usuário, destacaríamos aqueles que se revoltam contra o estado, que se impõem muitas vezes de forma que lhe desagradam. Mas não seria possível uma sociedade sem regras que possibilitem uma boa convivência.

Será esse o novo modo de vida que a sociedade irá optar? Pressupõe inclusive que os jovens permanecerão jovens e rebeldes pelo resto de suas vidas. E rebeldes contra a única causa que talvez tenham capacidade de avaliar, nesse momento de suas vidas: que existe lei e que são obrigados a segui-las.

Por outro lado certamente que a livre iniciativa é uma tese boa, defendida por uma sociedade moderna. Mas livre não significa exatamente livre para que cada um faça o que quer. No Brasil, por exemplo, existem órgãos que “controlam” essa livre iniciativa. Fundamentado nessas regras é que muitos negócios puderam existir, crescer, mas sempre respeitando as regras criadas para essa iniciativa não tão livre assim.

A proposta da Uber de livre mercado e o incentivo a livre iniciativa está destruindo, fora das regras, uma atividade quase secular. Inicialmente o que seria um serviço de qualidade está deixando de existir.

Mas o que há por trás dessa proposta, nós taxistas sabemos muito bem o que é isso: estão querendo acabar com a nossa profissão para implantar no seu lugar uma filosofia de mercado sem qualquer controle. Quando tiver nas mãos o domínio do transporte remunerado de passageiros, não vai mais oferecer preços baixos, que já são custeados pela exploração dos seus “parceiros”.  Simplesmente será um serviço, com controle total da “filosofia uberiana”. E somente para quem puder pagar. Portanto, a Uber não pode invocar o princípio da livre iniciativa para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor.

O texto abaixo dá a nítida ideia da desordem social que esse aplicativo pretende implantar, com a concordância das autoridades, que não se apresentam tão isentas.

Carlos Laia
“A Voz do Taxista” na Câmara Municipal de São Paulo – 19.345
Novo Táxi SP – Embarque nessa ideia
@carloslaiaavozdotaxista
@Carlos.Laia-PTN
Whatsapp – 11 98163-3323
carloslaiavereador@gmail.com

#carloslaia  #avozdotaxista #novotaxisp #embarquenessaideia #taxista #vereadordostaxistas

O Uber e o mito do mito do livre mercado

Semana passada peguei um Uber para ir até o médico. Minha primeira surpresa: era um Uno todo fodido. Como sempre, resolvi bater papo com o motorista — e algumas coisas me chamaram a atenção.

Quando começou o Uber eu me dei conta de duas tendências: é mais fácil se tornar motorista de Uber (registrar uma pessoa) do que ser um carro para o Uber (registrar um carro). O que aconteceu com o tempo, é que o pessoal mais ágil, e com mais capital, registrou vários carros em vários lugares. Essas pessoas, agora, estão contratando motoristas registrados no Uber, mas sem carro, para dirigir os carros (exatamente no esquema de Taxi), e apostando que os passageiros não vão estranhar que 1) o motorista não é o registrado; 2) o carro as vezes também não.

Também tem um esquema interessante, que o motorista me explicou, que a galera encontra uma brecha no sistema do Uber, se registra como motorista e vai numa locadora, e, ato contínuo, registra o carro da locadora como carro do Uber. Não sei, exatamente, se isso é papo do motorista — mas se é, as locadoras se tornaram, de fato, prestadoras de um serviço de aluguel de carros registrados para motoristas registrados no Uber alugarem e trabalharem uma tarde — mais uma vez, num esquema parecido com o dos Taxi.

Então, inicialmente, eu queria fazer um papel que pouca gente faz melhor que eu, que é o de “membro antenado da nova economia, eleitor do Novo”:

– Quem acha que isso é resultado da desregulamentação e da mão invisível está: certo. A mão invisível favorece quem aposta primeiro, quem aposta mais e quem tem mais para apostar. Quem não entendeu isso, não leu o troço direito.

– “Mas isso é errado” — ninguém se importa com tua noçãozinha de certo e errado, o ponto aqui é fazer mais dinheiro, mais rápido em buracos de entravamento para o processo de fazer mais dinheiro mais rápido. Quem é menos favorecido, nesse modelo, (digamos, o motorista que vende o tempo dele por um valor menos vantajoso) vai ter exatamente o ganho que merece no contexto — ou melhor, o ganho que ele está disposto a trabalhar. O que vocês chamam de “precarização”, o camarada tá chamando de “trickle down economics”.

– “mas isso não funciona” — o valor do Uber na bolsa é maior que o da Petrobras, e o Uber se tornou o maior agente no desenvolvimento de tecnologias de mecanização de motoristas no mundo. Me explica, do ponto de vista estritamente atuarial, como é que isso não funciona?

– “Mas as pessoas estão trabalhando por nada” — correção: as pessoas estão vendendo o trabalho delas pelo valor que elas estão dispostas a vender. É nada para ti. Para a pessoa vendendo, é o valor da hora dela.

– O Estado tem que interferir, então, para regularizar isso! — Mais ou menos como interfere no caso dos taxis, permitindo a atuação de cooperativas que vão se organizar para, bem, fazer exatamente o que o Uber faz?

“Isso é resultado natural da política natural e da ideia de mão invisível e auto-regulação”

Tem formas e formas de fazer modelos liberais. Eu entendo o espírito de porquice enquanto modo de vida que motiva a adoção de uma perspectiva ultra-individualista. Mas também é possível, para um modelo liberal , reconhecer algumas características diferentes no que a gente entende como “mão invisível” e a forma como a mão invisível vai funcionar.

O primeiro ponto aqui é que o mecanismo de auto-regulação pressupõe uma série de condições de competências e igualdades entre o agente (um pouco parecido com o que o John Rawls sugere no Teoria da Justiça, mas sem aquele monte de Kant).

Uma desvantagem de falar sobre essas coisas (e aí entra, de novo, o ponto dos neoliberais), é que a gente vai precisar perder tempo discutindo coisas como “moral” ou sobre quanta igualdade é igualdade suficiente. O ponto do liberal, via Friedman, é dizer: escuta, para com essa merda, e vamos deixar as pessoas se virarem. Quem se der mal, se deu mal porque não sabe se virar, e não é nosso papel ser babá de incompetente.

Acreditar nisso requer um grau de puerilidade relativamente alto, e também ignora que, bom, mais cedo ou mais tarde o tipo de relação de trabalho e de mercado que surge dessas trocas é um tanto insustentável — a questão do Uber pode ilustrar isso relativamente bem, na medida que a precarização não é só do trabalho do motorista, mas do serviço, e, no fim das contas, da marca.

Só que o cara que defende o modelo do Uber vai dizer: sim, é assim mesmo. E daí o Uber vai morrer, a gente vai pegar uma outra plataforma, dizer que “essa aqui não tem os problemas do Uber”, ela vai morrer também, e daí vamos para a próxima.

A gente vê isso na prática, todos os dias, em empreendimentos que vão do serviço de motorista de carro até o restaurante da moda, passando por BARBER SHOPS. O empreendedor vai dizer: vou explorar essa ideia, essa tendência, quando ela passar, fecho, conto meus pilas, e abro um novo negócio na nova tendência.

Muita gente ( eu incluso) vai chamar esse modelo de predatório — e ele é predatório, sobretudo, para o pessoal que trabalha nesses locais, mas também é para as comunidades onde esses negócios vão abrir e fechar. Esse tipo de conduta tá mudando as nossas relações com nossos bairros, com nossos vizinhos, e inclusive com a nossa família, de formas que a gente ainda tá começando a entender — um dos livros mais importantes dos últimos vinte anos fala exatamente sobre isso.

Fabricio PontinFollow
Music, Stupidity, Philosophy and some bizarre
2 days ago7 min read

Fonte: https://medium.com/alguns-ensaios/o-uber-e-o-mito-do-mito-do-livre-mercado-9dbdd122953d#.wujak1wu5

 

 


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